DE DEZESSETE EM DEZESSETE, ELES PINTAM O SETE
Crônica de dezessete em dezessete, eles pintam o sete
No mês de fevereiro de 1966, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma enorme tragédia com cerca de 200 mortos e mais de cinquenta mil desabrigados. Naquele tempo o mundo vivia a possibilidade do homem viajar até a lua, e no Rio de Janeiro já se cuidava da visita dos astronautas Neil Armstrong e Richard Gordon que estariam na Apolo 11, a ser lançada para pousar na lua. Essa visita ocorreu ainda no ano de 1966, mais precisamente no mês de outubro. Dezessete anos se passaram da tragédia e da visita, e o Rio de Janeiro elegeu Leonel Brizola como seu governador. Era o começo de uma contínua tempestade que no seu contexto social foi mais trágica que a enchente de 1966, e contribuiu muito para colocar a cidade maravilhosa no patamar em que está hoje.
Dois mil e sete: o Rio Grande do Sul começa a ser governado por uma mulher brilhante e competente que, como governadora, zerou o déficit do Estado já no segundo ano de administração, mas quando pensava na sua reeleição foi derrotada pelo petista Tarso Genro. Depois dela começaria outra grande tempestade de governadores corruptos e lesivos ao povo gaúcho. Vale ressaltar que não foi só no Sul que essa enchente de corrupção aconteceu. O Brasil no seu todo estava dominado por ela: na verdade ela começa em Brasília e contamina todos os estados brasileiros.
E o estado Gaúcho sempre tido como exemplo para o Brasil, vai se enrolando, se afogando em problemas, falta de pagamento aos seus servidores, inadimplência estatal, insegurança, secas, enchentes. E essas últimas e terríveis enchentes vêm mostrar isso. O que temos no momento é um estado endividado, com o penico na mão, curvado às promessas do governo federal de resolver sua situação. Ah, e 17 anos depois de um bom governo gaúcho parte do povo brasileiro se sujeita a ouvir quem recebeu 17 milhões, acreditando que aquilo é o melhor que a música pode lhe oferecer.
Dezessete no contexto de um tempo passado envolvendo situações de tragédias, não traz em si culpa a ser imputada a mudanças climáticas. O clima no seio da natureza cumpre seu tempo, o que pode fazer ele ter uma dimensão trágica são as pessoas. Essas sim, é que fazem com que o resultado seja catastrófico.
Hoje foi no Sul, nas cidades gaúchas. Amanhã, o que está acontecendo com Porto Alegre, acontecerá de novo no Rio de Janeiro, e em qualquer outra cidade brasileira, pois o saneamento básico é precário, os bueiros estão entupidos, os canais de escoamento não existem, a Burocracia impera, e a meritocracia foi jogada na lata do lixo da nossa história, e obras para solucionar problemas não existem; quando existem estão soterrados e inaptos por servirem para depósitos de entulhos. A cidade de Petrópolis foi um bom exemplo disso, pois uma obra feita no tempo do Regime Militar para evitar enchentes na nossa monárquica cidade, foi abandonada à sua própria sorte, e quando a enchente chegou, as águas apenas seguiram seu curso e mais de sessenta pessoas perderam suas vidas.
Não podemos esquecer o Rio, Friburgo, Petrópolis, Brumadinho, Mariana, devemos sim olhar para os céus, para ver se vai chover ou não, mas devemos olhar, e profundamente nos olhos dos nossos políticos, pois esses são os promotores naturais das nossas grandes tragédias. Vento não derruba prédios, mas quando esses são construídos com areia da praia, aí eles caem como as pirâmides construídas com cartas de baralho. Devemos ter, como bem têm os japoneses, uma cultura de prevenção, enfrentamento e salvamento em tempos de intempéries. Os japoneses têm terremotos, nós temos enchentes. Eles sabem o que fazer, nós não! Sequer sabemos se a pessoa que cuida de uma comporta por aqui , destinada a nos proteger, é um técnico de segurança ou tão somente um indicado por esse ou aquele político no âmbito das suas portarias.
Está na hora de olharmos para quem é tão vulnerável quanto nós, e não ficarmos colocando nossas vidas nas mãos de quem só olha para os nossos bolsos.
E eles estão por ai, salivando promessas! Quem não os conhece é por viverem no mundo de "uma dona", e acreditar que está no melhor dos mundos, dando ouvidos a eles ou a ela, musicalmente falando!
Crônica escrita por: Celso Correa de Freitas